01 March 2009

Terapia Doidasticamente Feita em Frente ao Computador

Quando a gente é criança, não tem muito essa de guardar sentimentos. E eu era assim: se sentia raiva, explodia mesmo, até chorava; se estava feliz, ria, contava pra todo mundo, achava todo mundo bonito e legal; se estava triste, me trancava no quarto chorando, tentando colocar pra fora toda a tristeza que me abatia. Mas nunca tentava entender esses sentimentos.
À medida que se vai crescendo, começa a história de guardar sentimentos, de não querer que alguns saibam o que estamos sentindo, de tentar entender o que se passa conosco... E é justamente aí quando começam os problemas. Não por tentar entender ou guardar os sentimentos, mas por não expressá-los da maneira correta e na hora correta. E isso ninguém nos ensina.
É perfeitamente aceitável (e até esperado) que, quando morre uma pessoa querida, a gente fique triste e derrame algumas lágrimas. O que os outros não aceitam é que, passado um tempo (sejam semanas, meses ou anos) de vez em quando bata aquela saudade, e vc comece a chorar sem muita explicação.
Vou te contar... Isso é a coisa mais idiota na face da terra que a humanidade já inventou. E conto o pq: em 2006, uma tia minha, de quem eu gostava muito (mas muito MESMO), morreu de repente. Do nada. E até hoje eu sinto a falta dela, por um motivo muito simples: por mais que eu errasse, por mais besteiras que eu fizesse, por mais que eu a magoasse (e, Deus do céu, eu sei que fiz isso), ela sempre estava lá. De braços abertos, sempre pronta pra me abrir aquele sorriso, e me aceitar e gostar de mim, me achando uma das pessoas mais importantes da vida dela, por ser exatamente do jeitinho que sou. Ela não achava que eu era perfeita, e acho que não se incomodava muito com isso. Mas o ponto crucial para mim é que, mesmo eu sabendo disso tudo, ela ainda assim demonstrava o quanto eu era importante pra ela.
A gente sabe que mãe e pai querem o nosso bem. Sabe que eles nos aceitam, mesmo tendo consciência de todos os nossos defeitos, e que somos talvez as pessoas mais importantes que eles têm na vida. Mas eu sempre senti falta dessa demonstração que a minha tia me dava. Eu sei bem o quanto eles me querem bem e o quanto querem que eu seja uma pessoa feliz, importante, bem colocada... Mas acho que já estou tão magoada, tão triste, que não consigo enxergar as demonstrações que, mesmo não sendo perfeita, não tem importância.
Vcs vão pensar que eu estou sendo criança, que estou sendo imatura e mimada por essa minha atitude. Mas uma coisa é certa: estou começando a ficar muito cansada, mas cansada mesmo, de tentar demonstrar o quanto eu posso ser uma pessoa legal, bem sucedida, e feliz, e quando faço algo com que os meus pais não concordem, não aceitem, achem errado, parece que cometi um crime federal, sem direito a indulto. Me sinto julgada por uma ação, e não pela pessoa que eu sou.
Me sinto sempre no fio da navalha: não posso dar um deslize. Não posso tomar uma atitude que os contrarie. Não posso usar um corte de cabelo que eles não aprovem. Não posso gostar de pessoas que eles não considerem perfeitas. Na verdade, muitas vezes sinto que não posso tomar minhas próprias decisões.
Eu guardo, guardo, guardo e guardo cada vez mais esses sentimentos, e isso vai crescendo dentro de mim. Ao invés de explodir, eu guardo. Não quero demonstrar que sou fraca e que às vezes eu quero um colo pra chorar, chorar, chorar e continuar chorando até o peito doer. Mas não quero que ninguém me dê resposta alguma, eu quero simplesmente que a pessoa me escute e fique lá, esteja lá, demonstrando que gosta de mim e que não tem problema nenhum eu chorar. Que não tem problema nenhum eu não ser perfeita, que tudo bem eu errar às vezes e que uma vez ou outra eu vou fazer escolhas erradas, mas que vou me levantar, seguir em frente e tudo vai se ajeitar. De um jeito ou de outro.
Mas eu sempre sinto que tenho que ser a Srta Perfeição, tenho que ser bonita, magra, elegante, bem articulada, discreta, bem colocada profissionalmente em um concurso público, mesmo sem gostar do que faço (pq ganho bem, e isso deve bastar), ter uma pessoa ao meu lado que me sustente financeiramente - ou até não ter ninguém, o que deve ser melhor; chegar em casa no horário, não sair, não conversar com ninguém (pq ninguém nesse mundo é digno de confiança); usar roupas chiques mas que custem pouco; falar pouco, quase nada, fazer piadas na hora certa, e o principal, não dar trabalho para ninguém.
Chorar no ombro ou no colo implica em dar trabalho para alguém. Então não sou perfeita. A impressão que tenho é que basta um errinho mínimo para que tudo o que eu faça, todos os dias (e que nunca é o suficiente) perca todo o seu valor. Basta eu comer um pouquinho a mais, para me tornar uma pessoa digna apenas e tão-somente de pena por ser esganada e balofona. Basta gastar com uma bobagenzinha que eu queria, pra que me torne uma gastadeira irrecuperável e caloteira em potencial. Basta eu chorar de tristeza ou saudade ou raiva para ser um fardo pesado na vida de todos.
Às vezes eu acho que não deveria ter nascido, que vim foi de teimosa. Ainda me lembro das palavras ditas uma vez, quando eu tinha uns 15 anos: "Fui burra de engravidar, e quando fiquei sabendo, a burra aqui ainda ficou feliz". Isso me machuca tanto, tanto, que todos os dias eu penso se sou um erro da natureza (não com essas palavras); e também que não quero ter filhos para não passar toda essa carga errada adiante.
Estou tão cansada da minha vida, tão cansada de viver, que não tenho mais ânimo para sair, me divertir, comer, sei lá. Tudo me cansa. Tudo me deprime. Não vejo graça em mais nada, estou voltando ao automático: acordar, me arrumar, ir para o trabalho, trabalhar com carinha feliz, voltar para casa, fazer carinha feliz, comer qualquer coisa, ouvir reclamação, tomar banho, dormir. Estou voltando ao automático. Hoje também vou estar no automático: sair, comer, ver as coisas, conversar um pouco, voltar pra casa, tomar banho, ver o BBB e dormir. E amanhã começa tudo outra vez...

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